Capítulo I

Diálogo entre um delegado de polícia e um detetive num certo distrito policial:

- É doutor Mendonça, parece que finalmente desvendamos o mistério. Agora todos vão saber “QUEM MATOU O CARA”.

- É isso aí, detetive Padilha. Venha de lá!! – Comemora o delegado, cumprimentando o chefe do serviço de investigações do 45º DP com uma batida na palma da mão e um leve soco entre os punhos. E completa ele:

- Marque uma entrevista coletiva para daqui à uma hora com toda a imprensa. Eu disse toda a imprensa. Aqui mesmo na delegacia.

- Sim senhor, “chefia”. Vai ser uma grande surpresa, em doutor?

- Com certeza. Agora se ligue detetive. Quando marcar a coletiva, não diga por enquanto que elucidamos o crime. Diga apenas que temos novas informações e depois vá completar a operação. - Ordena o chefe de polícia com um sorriso de orelha a orelha.


Como prometido, cerca de uma hora depois, diante de um batalhão de repórteres chega o delegado Júlio Mendonça. Em meio a dezenas de profissionais da imprensa falada, escrita e televisada e uma parafernália de equipamentos, começa então a esperada entrevista coletiva.




- Delegado, algum fato novo nas investigações?

- Em primeiro lugar bom dia a todos! Talvez nós tenhamos um fato novo ainda hoje. Mas a princípio, o que eu tenho a afirmar aos senhores é o seguinte: De acordo com a perícia, a pessoa que matou o Dr. Abílio Galizza usava uma arma de fogo portátil, leve, de cano muito curto, semelhante à pistola da vítima.

- Dá pra se saber como o empresário foi assassinado, doutor delegado?

- A princípio, o que se sabe é que naquela noite e início de madrugada chovia bastante e a casa da vítima estava sem energia elétrica, já que um raio danificou a rede a elétrica de toda a rua e consequentemente de todas as casas daquele quarteirão. Então, após entrar na suíte do empresário Galizza a pessoa que o matou percebeu o brilho de uma arma de fogo que estava sobre a cama, em meio ao clarão repentino de um relâmpago.

- Essa arma de fogo seria a pistola do empresário, delegado? – Indaga um dos repórteres.

- Exatamente. Pistola que por sinal estava municiada. Então – completa ele -, essa pessoa, que usava este par de luvas aqui, achado há dois dias num terreno baldio próximo a mansão do empresário, apanhou a arma e seguiu em direção ao banheiro do quarto. Da porta avistou através do boxe fechado, o vulto do Dr. Galizza que se encontrava no banho. Então, a pessoa apontou a arma em direção à vítima e efetuou quatro disparos, acertando o alvo por três vezes. Em seguida jogou a arma ao lado do corpo e fugiu. Provavelmente pela porta da frente, por onde também teria entrado.

- Só o caseiro estava na mansão? – pergunta mais um repórter.

- O que ele alega? – completa outro, para o delegado Mendonça então responder:

- O caseiro Jeremias alega que não viu nada e nem conseguiu ouvir os estampidos devido à tempestade e que seria impossível ter visto alguém entrando, ou saindo do imóvel, devido à escuridão no local, já que, como já disse, um raio danificou a rede elétrica. Ele disse também em seu depoimento, que saiu para procurar a mulher. A dona Rita. Os dois haviam acabado de discutir feio na casa dos fundos, onde moram.

- A partir daí, a que conclusões a polícia chegou, doutor?

- Uma delas, que os senhores já sabem, é a de que a arma do crime foi mesmo a pistola da vítima. A segunda – completa o delegado – é de que o assassino, ou assassina, não planejou o crime, a princípio, já que não estava com a arma. Assim que o empresário saiu da boate denominada... Onde está o nome da boate? - o delegado perde um pouco o raciocínio em meio às anotações, sendo orientado por um auxiliar.

- Boate Super Night, doutor.

- Isso. – completa ele – Boate que fica na orla marítima da cidade.

- Delegado? – Interrompe uma jovem jornalista, sendo “atravessada” por um colega, que acompanha seu raciocínio numa mesma pergunta:

- Como o assassino, ou assassina, sabia que o empresário estava na boate?

- Essa pessoa já tinha conhecimento disso há algum tempo. Inclusive o horário exato que o cara... Desculpe; que o empresário chegava ao local, todos os sábados. Completando, senhoras e senhores, depois de sair da boate, visivelmente alcoolizada, a vítima entrou no seu carro e seguiu em disparada em direção a sua casa de praia, sendo provavelmente, seguida pela pessoa num outro carro. Que é o que iremos confirmar daqui a pouco.

- Delegado, se a pessoa não planejou o crime, por que usava luvas?

- Aquela madrugada estava muito fria. Acreditamos ter sido apenas uma coincidência.

De repente a entrevista é interrompida quando o celular do chefe de polícia toca. Mendonça fala ao aparelho por alguns segundos, com um leve sorriso no rosto e depois de encerrada a ligação informa a todos os profissionais de imprensa:

- Atenção! Atenção senhoras e senhores! Acabo de ser informado de que a pessoa que matou Abílio Galizza já foi capturada e vai entrar por aquela porta exatamente... Agora.

E foi o que aconteceu. Conforme afirmou o delegado Mendonça, o detetive Padilha, chefe do serviço de investigações, abre a porta do gabinete e manda que os agentes de polícia façam a pessoa responsável pelo brutal assassinato do empresário Abílio Galizza entrar. Para surpresa de todos o delegado então informa oficialmente a imprensa:

- Senhoras e senhores, aqui está quem matou o cara... Perdão. Quem matou o sócio da Frotaxi... (?)

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