Capítulo VI
Orlando já estava em reunião a portas fechadas com o seu sócio Abílio no escritório da Frotáxi.
- Orlando, eu sei que não é o momento para agente falar sobre isso, mas preciso te mostrar uma coisa.
Abrindo o cofre, Galizza apanha um envelope grande e entrega nas mãos do sogro, que meio confuso pergunta:
- O que é isso Abílio?
- Abre...
- Que brincadeira é essa? – Indaga o pai de Fernanda visivelmente transtornado ao ver fotos da filha aos beijos com o seu grande amigo Henrique. De repente começa uma acirrada discussão, cheia de acusações entre os sócios da empresa de táxis mais conceituada da cidade.
- Me responde uma coisa, Abílio. Você teve alguma coisa a ver com a morte da minha filha?
- Você não tem como provar, mas aquela adúltera bem que mereceu morrer...
- Eu vou matar você, seu canalha! Você sabotou o carro dela, responde?
- Calma seu Orlando! – Grita uma das secretárias.
- “Peraê” pai... Calma! O que é que tá... Que fotos são essas? - Indaga Leonardo que acabava de chegar no escritório com a irmã Luana.
- Tudo indica que esse canalha tem alguma coisa a ver com a morte da sua irmã, meu filho.
- Você não tem como provar que eu matei aquela vagabunda. Mas eu repito: Ela bem que mereceu morrer.
- Cala essa boca seu safado... Se não eu que vou te matar. – Grita Leonardo dando um violento soco no nariz de Abílio que sai da sala ensangüentado e jurando dar o troco.
- Cadê Luana, Renata? – Pergunta Pedro.
- Não sei. – Responde a secretária, que em seguida indaga ao patrão:
- O Senhor acha que ele sabotou o carro da dona Fernanda, seu Orlando?
- Eu tenho quase certeza, minha filha. Tenho quase certeza... E isso não vai ficar assim.
Mesmo abalados com a precoce morte de Fernanda todos tinham que seguir em frente e no final de mais uma tumultuada jornada de trabalho na Frotáxi, quase todos os funcionários se retiraram, ficando apenas Orlando e a operadora de rádio Aline.
Abílio, principal suspeito de sabotar o carro de Fernanda, desde que saiu da empresa pela manhã, decidiu encher a cara de uísque e sua última parada, já por volta das 10 horas da noite, foi em uma boate que costumava freqüentar constantemente.
- Que se danem todos... Ela teve o que mereceu!
Resmungava ele sem imaginar que em frente à boate alguém misterioso o aguardava pacientemente dentro de um carro preto.
Já por volta da meia noite, a chuva ainda não havia começado a cair, mas prometia. Depois de sair da boate trocando as pernas de tão bêbado, Galizza entrou em seu carro e saiu em direção a casa de praia, sendo então seguido por um outro veículo.
Pouco tempo depois, já numa esquina próxima a casa do empresário, um vulto abrigava-se sorrateiramente debaixo da marquise de uma casa, em frente à mansão de Abílio Galizza, se protegendo da tempestade que voltou a castigar a cidade.
Usando luvas, guarda-chuva preto e uma enorme capa a pessoa misteriosa observou atentamente a chegada de Abílio na casa de praia... Cada passo... Ou por que não dizer cada tropeço do empresário era espionado de debaixo daquela marquise. Enquanto o cara saltava do carro em completo estado de embriagueis, berrando o nome do caseiro.
- Oh seu Jeremias! Jeremias! Cadê você, porra?! Vem abrir esse portão que perdi o meu controle-remoto!
- Já tô indo, seu Abílio.
- Seu incompetente. Se você demorar mais um segundo amanhã eu te demito. Hoje não que eu to muito bêbado. Demito você e aquela gostosa da tua mulher... Sabia que eu já tirei uma casquinha ali?
- Que conversa é essa, seu Abílio? Que falta de respeito é essa com a minha mulher? – Reclama o caseiro já indignado.
Mesmo revoltado com o que acabou de ouvir, em meio aquela chuva repleta de travões e relâmpagos, Jeremias abriu o portão da garagem e ele mesmo guardou o carro, enquanto Galizza seguia cambaleando em direção a entrada da casa. O empresário então empurrou a porta que estava encostada e subiu as escadas em direção a sua suíte.
- O senhor quer ajuda seu Abílio? - Pergunta o empregado, após sair correndo do carro.
- Não precisa. Me deixa em paz. Vai cuidar da tua vida. Vai cuidar da tua mulher...
- Safado, desgraçado... – Resmunga Jeremias, observando o patrão subir as escadas titubeando, esbravejando palavrões e ameaças:
- Cambada de desgraçados... Amanhã vou colocar todo mundo no olho da rua.
Ao chegar ao primeiro andar e entrar na suíte, o bebum deixou a porta entreaberta, indo direto ao criado-mudo. Ele então abriu a pequena gaveta, apanhou uma pistola municiada e a jogou sobre a cama.
- Se essa corja pensa que eu tenho medo, eu não tenho medo de nada. Tá aqui a minha arma e vou tomar banho. Quero sair pra tomar todas de novo. – Retruca o empresário, seguindo em direção ao banheiro, enquanto trovões e relâmpagos rasgavam os céus, numa intensa e assustadora tempestade.
De repente ouviu-se uma explosão e todas as luzes do bairro se apagaram. Era um raio, que acabava de cair. Os três cães que protegiam a mansão já estavam latindo desde a chegada de Abílio e ficaram ainda mais agitados com o apagar das luzes. O caseiro Jeremias, então resolveu prende-los no canil nos fundos da casa. Enquanto que pouco tempo depois a pessoa misteriosa já invadia a casa, subindo as escadas bem devagar em direção ao quarto de Abílio.
Entre um relâmpago e outro, após entrar na suíte a pessoa percebeu o brilho da arma de fogo que estava sobre a cama e não perdeu tempo. Apanhou a pistola, seguindo em direção ao banheiro do quarto, onde avistou o vulto do empresário no banho. Foram quatro disparos, mas só três tiros acertaram o alvo nas costas e na cabeça, altura da nuca. O cara morreu na hora. Em seguida o assassino (ou assassina) jogou a arma no chão e seguiu rapidamente em direção a escada, saindo pelo mesmo local por entrou: A porta da frente.
A aquela altura dos acontecimentos o caseiro Jeremias também já havia sumido, não se sabe por que. Será que foi ele quem matou o cara? Quem matou o empresário Abílio Galizza?